Thursday, May 24, 2007

Poeira

Bruce não esperou pelo Estranho que o intimidara em classe. Tampouco comunicou à Moira o ocorrido; achava que ela já tinha sua própria cota de problemas para digerir.

Quando abriu a porta de casa, o apartamento parecia morto. Jessica dormia no sofá, mais uma caixinha de lenços de papel largada sobre a mesa de centro. Bruce caminhou silenciosamente até o quarto.

Seguiu-se o Conflito Interno, Bruce abrindo e dobrando a folha de papel que arrancara de uma lista telefônica. O nome de seu pai ainda estava gravado ali, recusando-se a desaparecer.

A porta se abriu.

- Já voltou? – perguntou Jessica, colocando a cara amassada pelo sono para dentro. – Sua mãe ligou.

Bruce guardou a folha dentro do bolso do casaco.

- É mesmo?

- Ela pediu para que você ligasse de volta.

Eu não sei o telefone da minha mãe, Bruce pensou. Como posso dizer isso a ela? Será que Rob ainda mora no mesmo lugar?

E, então, como se um raio houvesse atingido a cabeça de Bruce, as coisas ficaram insuportavelmente claras.

Será que Rob ainda existe neste presente?

- Bruce?

- Sim, eu vou ligar.

Bruce decidiu arriscar suas chances:

- Ela disse como está o meu pai?

Jessica enrugou a testa, pensativa. Sua expressão parecia mais séria.

- Ela não soou muito satisfeita – disse; e, sem maiores explicações, deixou o quarto.

Bruce ficou olhando para a porta, ouvindo o caminhar das muletas. Seus pais ainda eram casados ou não? E Rob?

Ele sentiu o estômago embrulhar.

E Finnegan? Finnegan também havia se transformado em poeira cósmica, como o Outro Bruce?

Decidiu que não podia permanecer daquela forma. Deixou o apartamento sorrateiramente, enquanto Jessica via televisão. Voltou após dez segundos, pegou o telefone e perguntou:

- Onde está minha agenda?

Jessica voltou-se para ele.

- Na sua pasta, eu suponho. Que, por sinal, não vejo há algum tempo.

Bruce Sobressalente levara a pasta e a agenda telefônica para o buraco negro.

- Não sei o número da minha mãe – Bruce disse, tentando parecer seguro. Muitos homens não sabem o telefone da própria mãe. Estatísticas poderiam provar. – De cor.

Jessica não pareceu surpresa. Ela informou o número. Bruce discou e sentou-se em uma das cadeiras da mesa de refeição. O telefone tocou duas vezes antes que alguém atendesse.

- Alô – era Honoria.

- Mãe – Bruce disse. E não conseguiu mais abrir a boca.

- Ah, Bruce. É você. Que bom que finalmente o encontro em casa. Onde esteve, ontem?

- Preso. No... metrô.

- O quê?

- Como vai, mãe?

- Bem. Seu pai não dormiu em casa, noite passada.

Bruce empalideceu.

- Ele me ligou de madrugada e não entendi nada do que disse. Não voltou a ligar, tampouco apareceu.

Não houve resposta.

- Bruce, está aí?

- Estou.

- Eu apreciaria se você passasse no Trooper por mim. Ou talvez na casa daquele homem, Kirk. Eu realmente não tenho paciência para bancar a babá do seu pai depois de quase trinta e cinco anos de casamento. Bruce?

- Sim.

- Sim?

- Sim, eu farei isso... o que me pediu. Quem é Kirk?

- Ah, o que eu não daria para não saber a resposta a essa pergunta – e Honoria desligou o telefone.

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