Quando desceram do trem, Bruce puxou discretamente o braço de Moira.
- Um maluco apareceu na minha sala de aula. Ele disse que se chamava Peter.
Moira não respondeu. Ela estalou a língua e pareceu ausente durante um ou dois instantes, como se procurando assimilar o que acontecia.
- E então?
- Sim – foi o que Moira disse.
- Sim? Quem é Peter? Porque eu sei, e Deus sabe, que existem muitos homens chamados Peter por aí, mas algo me diz que o Meu Peter e o Seu Peter são o mesmo Peter.
- O que estão fazendo? – Stella se aproximou. – A plataforma está ficando muito cheia.
Bruce notou o olhar quase faminto que alguns homens recostados na parede dirigiam ao trio. Ele não sabia o quanto as pessoas eram miseráveis naquele futuro, mas tinha uma vaga idéia. Empurrou levemente Moira para junto da mãe e caminhou ao lado das duas, afastando-se daquela área.
Bruce voltou-se para Stella assim que deixaram a estação:
- Onde fica o The Trooper?
- Mas você não sabe? – Stella perguntou, risonha.
A resposta pareceu entalar na garganta de Bruce. Ele grunhiu e deu de ombros.
- Bruce não foi criado em Norwich – Moira se apressou em dizer.
E então ela arregalou os olhos, ciente da própria gafe.
- Eu fui, é claro que fui, Moira – Bruce riu, levemente desesperado. – Mas eu saí já há muito tempo. Londres consumiu toda a parte do cérebro que eu dedico ao mapeamento mental de cidades.
Poderia existir uma desculpa pior? Um Bruce de dez anos ergueu a cabeça quando a porta foi aberta. O professor, perplexo, olhou para o garotinho – uniforme em ordem, ausência em classe não percebida: “Como conseguiu a chave desta sala?”; “Eu encontrei debaixo do meu travesseiro”.
- Sempre posso piorar as coisas.
- O que disse?
- Nada. Não seria melhor pegarmos um táxi ou algo assim?
Stella gargalhou.
- Você é engraçado, Bruce. Não confiaria a integridade física de nem mesmo um saco de açúcar a um táxi que circule por aqui.
Caminhar não seria um problema, Bruce decidiu. Ele precisaria de tempo para digerir o inevitável encontro com um pai que estava morto há mais de vinte anos.
- Está se sentindo bem? – Moira murmurou.
- Eu preferiria ter descoberto que sou casado com a Golda Meir do que precisar rever o meu pai. Apenas uma forma alegórica de demonstrar como eu me sinto no momento.