Wednesday, November 08, 2006

Uma conversa telefônica

Bruce levou Rose para almoçar em um restaurante minúsculo numa esquina da Oxford Street. Ele parecia ainda mais monossilábico do que de costume, o que não era de grande ajuda para acalmar os nervos da namorada, que torcia as mãos de nervoso na frente de sua salada.


- Você acha que a festa de inauguração vai dar certo?

- Claro que vai - Bruce forçou um sorriso.

- Você não parece muto certo...

- Eu só estou exausto. Muito exausto.

- Esse teu chefe te explora!


Seria inútil explicar o que tinha acontecido - nem mesmo ele entendia. E Rose, coma cabeça cheia de babados e esperanças, não teria tempo para compreender ou aceitar aquele arremedo de ficção científica no qual seus dias tinham se transformado.

O celular tocou, estridente. Rose olhou para o aparelho como se ele fosse radioativo.

Bruce atendeu, com medo que fosse Wilcox.


- Alô?

- Bruce, sou eu.


Era Moira. Voz distante e fria. Som de estação de trem ao fundo.

Por um instante, um tenso instante, ele podia jurar que ela estava falando da estação fantasma de West Rotherhithe. Mas o som do auto-falante falava em trens seguindo para Manning Tree, Ely, Cambridge - o leste do país. Ela, decididamente, não estava em uma estação do metrô.



- Ahn, oi. Onde você está? Mal consigo te ouvir!

- Em Liverpool Street. Na estação de trem, quero dizer. Você pode avisar o Wilcox que eu não vou trabalhar amanhã? Eu tenho que ir para casa.

- Norwich? O que foi que houve?

- Meu avô foi internado... Ele teve um ataque cardíaco... Eu tenho que ir... A coisa está meio feia, precisam de mim por lá.

- Ele está tão mal assim?

- Já é a segunda vez que ele é internado. O prognóstico não é dos melhores. Enfim! Eu vou tentar voltar assim que for possível - eu não sei quando, meu avô só tem a mim como família. Você avisa o professor?


Quando Bruce desligou o telefone, Rose estava espumando de raiva, de maneira discreta mas visível. Afinal, ela deixava recados e mais recados e ele nunca se dignava a atender - e de repente lá estava ele, demonstrando mais atenção com um estranho do outro lado da linha do que com ela, ali, sentada bem à sua frente.


- Quem era?


Bruce colocou o telefone no bolso. Não saberia dizer porque tinha vontade de levantar dali e correr para a estação de trem, para Norwich, para longe, bem longe.

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