Wednesday, November 08, 2006

O princípio

Bruce olhou para o próprio prato, um pouco confuso. Depois, olhou para Rose, que aguardava por uma resposta. Ela não comeria ou o deixaria ter paz para colocar os pensamentos em ordem enquanto não se satisfizesse.

- Um amigo meu – Bruce disse.

- Amigo?

- O pai dele foi internado. Ataque cardíaco.

- Que horror – Rose ergueu as sobrancelhas finas. – Ele está morrendo?

Bruce deu um sorriso nervoso, com o canto dos lábios.

- Não sei, Rose. Você é direta. Espero que não.

Rose tomou um gole de refrigerante dietético.

- Todos esperamos.

Bruce assentiu e pegou o garfo. Havia, não sem surpresas, perdido a fome. Se Rose notou seu incômodo, preferiu ignorá-lo. Não voltaram a conversar até terem saído do restaurante – Bruce pagou a conta.

Quando retornavam para a loja, ele estacou no meio do caminho.

- O que foi? – Rose perguntou.

- É melhor eu ligar para a minha mãe.

- Ouviu o que acabou de dizer?

- O homem que foi internado é um amigo dela. Seria bom que eu a avisasse. Se é que ela já não foi.

- Bem, não pode ligar do celular?

- Talvez eu precise ir para Sandringham.

- Hoje? – Rose parecia decepcionada. – Viajar hoje?

- É uma emergência, Rose. Não se tem controle sobre isso.

Rose olhou em volta, para os passantes. Bruce se perguntou acaso ela teria coragem de começar ali, no meio da calçada, mais uma discussão, e descobriu que não tinha paciência para se explicar; antes dar as costas e deixá-la falando sozinha. Mas Rose, ao contrário, pareceu se encolher, e deu de ombros.

- Ótimo – ela balançou a cabeça. – Ótimo, Bruce. Faça como quiser. E me ligue, caso mude de planos.

- Não estou fazendo planos!

- Ainda assim, me ligue.

Sem se despedir, ela o deixou para trás.

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