Tuesday, November 07, 2006

Em Oxford Street

Rose revistou as roupas penduradas em cabides brancos e delicadinhos (como a visão de uma garotinha amarrando os tênis cor lilás), querendo encontrar algum defeito com o qual pudesse se ocupar. As peças da nova coleção estavam intactas, contra seu melhor esforço. Annabeth, apoiada no balcão, batia o salto do sapato no piso brilhante, parecendo impaciente.

- O que está fazendo aí, Rose? – ela perguntou.

Rose não se virou para responder:

- Absolutamente... – ela mordeu os lábios, zangada. – Tentando encontrar alguma coisa descosturada.

- Está brincando, não é?

- Não. Achei uma blusa desfiada.

- Rose, o que estava fazendo no quartinho dos fundos? Há cinco minutos atrás.

- Arrumando o estoque, é óbvio.

- Não acha que a inauguração da loja está revirando a sua cabeça? Um pouco, pelo menos.

Os dedos de Rose deslizaram pelas roupas. Ela se voltou para Annabeth.

- Como você esperava que eu ficasse?

- Esqueça, foi um comentário estúpido – Annabeth suspirou, entediada, brincando com uma peninha que havia ficado grudada em seu vestido. Depois de algum tempo, ainda ouvindo Rose trabalhar, ela ergueu os olhos para a vitrine, curiosa. – Rose.

- O que é?

- Seu namorado está do lado de fora. Ou um homem que se parece muito com o seu namorado.

Rose alisou a saia que usava. Ela viu Bruce parado na frente da loja, as mãos nos bolsos, desamparado como um turista que acabara de se perder do resto da excursão.

Caminhou até ele.

- Então aí está você.

Bruce sorriu levemente.

- De tempos em tempos eu abandono o covil.

- Sim, quanto bom-humor. Você foi grosseiro da última vez em que nos falamos.

- É verdade. E, por isso, eu gostaria de pedir desculpas.

Os dois ficaram em silêncio. Bruce olhou para a faixa que atravessava a vitrine.

- Posso ver que hoje é o dia da inauguração.

- Está convidado, se faz alguma diferença.

Bruce assentiu.

- Obrigado por mais uma prova de magnanimidade.

Rose cruzou os braços.

- O que vai fazer agora?

- Comer, imagino – Bruce deu de ombros. – Não há comida no meu apartamento, exceto um cereal com a validade estourada.

- Vou pegar meu casaco e levá-lo até um restaurante.

- Não tem trabalho a fazer?

- Annabeth vai ficar feliz por se livrar de mim. Espere aqui.

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