Moira deu de ombros - estava tão cansada e tão confusa que qualquer coisa que ele dissesse soaria sensato. Colocou o maço de cartas em outra cadeira e fez um gesto para que Bruce se sentasse a seu lado.
Enquanto Honoria e o marido saíram à procura de um médico, Bruce observou as cartas em cima da cadeira. Um grande maço, amarrado com uma fita de cetim verde. E em cima de todas as cartas, uma foto. Um pub enfeitado para uma festa: tijolos à vista, jardim, um banco de plástico num canto, gente bebendo do lado de dentro. Edward, mais moço, sorrindo como sempre, despreocupado como sempre, feliz da vida.
E o outro homem. Encostado à parede, ar desconfiado, um sorriso meio forçado no rosto pálido. Loiro. Grandes olheiras - as mesmas que Bruce tinha herdado.
- Posso ver essa foto?
Moira passou o retrato, sem perguntar muito. Era ele mesmo: Nicholas Glendoning, o pai de Bruce. Era esse o ponto de contato entre os dois homens - Edward Morris era muito amigo de Glendoning. Tentou impedir que este se matasse na bebida, sem grande sucesso.
Pela primeira e provavelmente única vez, Bruce conseguiu entender porque Moira tinha aquela vontade de voltar no tempo. Segurando aquele pedaço de história - um registro perdido de um encontro que acontecera antes que ele nascesse - não existia uma vontade de estar ali? De ver o que tinha acontecido - não imaginar, ver, ser testemunha?
- De onde é essa foto?
- Estava nuna carta que minha mãe mandou para o meu avô. Parece que é da festa que ela e meu pai deram quando anunciaram o noivado.
- E isso foi quando?
- 1978, com certeza. Eu conheço o pub, é o The Trooper. Meu avô freqüentava o lugar.
- Sabe quem é o homem com o seu avô?
- Não tenho a menor idéia.
Bruce se permitiu sorrir por um instante.
- Claro que não.
Wednesday, November 22, 2006
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