Thursday, November 30, 2006

Para a posteridade

Wilcox escreveu uma carta explicando tudo para seu eu do futuro, uma segunda carta explicando tudo para Moira e ainda uma terceira carta explicando tudo para Bruce. Queimou as duas últimas.

A carta para seu eu do futuro dizia:


“Como eu poderia não saber? O que significa, aqui, como você pôde não me contar? Posso estar compactuando com um crime!”


E:


“Talvez eu devesse despedir um dos dois”



E também, muitas linhas depois:


“Agora eles já têm um relacionamento fora do trabalho. Wilcox, eu nos odeio.”


Ele lacrou o envelope. Guardou em uma das gavetas que tinha o hábito de trancar, tendo passado, antes, meia hora sem saber o que fazer a respeito. Somente um outro Wilcox teria a chave certa para abri-la e ler a carta.

Fez chá e aproveitou o resto da tarde em completa intranqüilidade. Quando começava a anoitecer, pensou em ligar para Bruce. O celular estava desligado. Wilcox respirou fundo e controlou o impulso de discar o número de Sandringham.

Para se ocupar, eliminar todas as surpresas do dia, pegou uma antiga foto de Abigail – seu segredo mais obscuro; ninguém sabia da existência do retrato –, sentou-se e passou a desprezá-la em silêncio.

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