Friday, September 15, 2006

Sobre um celular

- Rose?

Houve silêncio do outro lado da linha – ainda que, ao fundo, uma mulher continuasse a matraquear.

- Bruce? É você?

Bruce olhou para o relógio de pulso. Marcava pouco mais de oito da manhã.

- Tudo indica que sim. Com quem está brigando?

- Annabeth – acrescentou, enfadada: - Minha colega de trabalho. Bruce, quem atendeu o celular?

Ele olhou para Moira, que sacudiu os ombros. Ela não tinha, tampouco, como se explicar.

- Minha colega de trabalho. Quanta coincidência.

- Por que sua colega de trabalho atendeu o seu celular?

- Porque... – ele hesitou. Sentou-se rapidamente, calçando os sapatos. – Porque eu estou no trabalho. E ela está no trabalho. Porque trabalhamos juntos.

- E você deixa seu celular largado por aí, para ser atendido por qualquer um?

- Não seja grosseira, Rose. Eu estava em outra sala, ela ouviu e atendeu.

- Seu celular.

- Meu celular.

- Então agora eu não preciso me preocupar mais com a sua falta de atenção. Se você estiver em um restaurante, o garçom certamente vai ter a bondade de atender. Ou em uma padaria, talvez o padeiro atenda. O leiteiro, a mulher que faz cobertura de rosquinhas.

- Rose. Eu não fiz de propósito. Não costumo largar as coisas por aí.

- Eu liguei cinco vezes para a sua casa, ontem e hoje. Se você tem um celular, supõe-se que seja para alguma coisa.

- Sim, sim, Rose – Bruce suspirou, zangado. – Me desculpe. Não precisa se preocupar com a integridade do meu celular. Vou ser mais atencioso a respeito das companhias com que ele anda e não vou deixar que chegue depois da meia-noite. Obrigado, até mais.

Desligou o aparelho antes mesmo que pudesse se dar conta do que fazia, ou que possíveis conseqüências precisaria sofrer. Levantou-se e checou os bolsos do casaco.

- Wilcox ligou? – perguntou.

- Não. Ainda não. Talvez esteja excitado demais com a máquina para se lembrar da nossa existência.

- É o que me preocupa – ele esfregou os olhos. Ainda parecia cansado. – Me desculpe você também. Por Rose. Ela é bastante... dramática.

Moira riu:

- Não se preocupe. Se servir de consolo, ela foi bastante monossilábica durante os poucos segundos em que trocamos palavras.

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