Wednesday, September 06, 2006

Ovo de Serpente

A saída para o Hampton, via túnel secreto, demorava quarenta minutos. Wilcox tinha colocado um carro dentro do túnel (um Ford Anglia arrebentado, sem pára-choques ou vidros) para o transporte. Durante todo o trajeto, o professor matraqueou sem perceber que estava falando sozinho: Bruce estava nervoso demais para falar e Moira parecia em estado de choque.

Bruce se ofereceu para acompanhar a garota de volta até seu apartamento, em Liverpool Street. Por via das dúvidas, achou melhor não ir de metrô: não sabia quanto tempo ainda demoraria para deixar de ter medo de trens e vagões.

Talvez nunca.

Ele estranhara o tamanho do apartamento em Liverpool Street, o modo como Moira vivia. Era um lugar limpo e estranhamente impessoal: nenhuma foto de família, nenhum pedaço de história. Quem teria um retrato de Einstein na parede mas nenhuma foto dos pais? Ou então do avô, que tanto a adorava (e ela parecia amar)?

Moira sentou-se automaticamente no sofá e fechou os olhos. Estava ainda mais pálida, as mãos apertando algo invisível debaixo das palmas.


- Eu não sei se vou conseguir ir trabalhar amanhã - ela disse, com voz incerta - Acho que eu ajudei um maluco a chocar um ovo de serpente! Uma máquina daquela, nas mãos do Wilcox?

- Exatamente o que eu pensei - Bruce respondeu - Não me surpreenderia se amanhã a gente acordasse e visse que a Grã-Bretanha virou uma república ou algo pior.

- Aquele homem. Em Cambridge. O homem que entrou na loja...


Moira abriu os olhos novamente.


- Eu tenho que voltar ali. Eu tenho certeza que aquele era o meu pai.

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