Thursday, August 31, 2006

Mais ameaças

Bruce, num piscar de olhos, descobriu-se de volta ao vagão; sentado e com sono. Mais um passageiro ordinário de qualquer manhã londrina do que um viajante do tempo.

Olhou para o lado: Moira estava deitada, desperta, parecendo confusa demais para reagir. O professor Wilcox, em contrapartida, foliava pelo trem sem nenhum pudor. Bruce tentou dizer alguma coisa, mas só pôde produzir um grunhido esquisito.

- Como foi? O que acharam? – Wilcox havia irrompido da cabine de máquinas com o peito estufado. O herói da nação. – Gostaram do nosso passeio, eh?

Bagunçou os cabelos de Bruce, que, apoiando-se mal e mal, pôs-se de pé. O professor ainda ergueu um dedinho indicador quando o assistente rumou para fora do trem, cambaleante, a saída clássica de quem só retornaria com uma serra elétrica e sede de vingança, mas não disse nada que pudesse impedi-lo.

- Ora, ora. Estamos com humores alterados hoje, não? – Wilcox indagou consigo mesmo. Tendo notado Moira, aproximou-se dela e se ajoelhou. – Alô, Moira. Está tudo bem aí? – recebeu-a com um sorriso amarelado.

Moira ainda levou algum tempo para fixar os olhos no professor. Parecia ter se perdido em um longo raciocínio.

- Nós realmente estávamos lá – disse, a voz baixa como um sussurro.

- É claro que sim! Você e Bruce são um pouco céticos demais. Bem, Bruce é, na verdade... ah, esqueça. Você precisa de ajuda para se levantar?

- Não, eu estou bem.

- A primeira vez é sempre estranha. Vai melhorar com o tempo – Wilcox, de repente, franziu o cenho. – Está ouvindo isso? Um pouco de eco?

Moira, de pouca vontade, levantou-se.

- Parece que estão batendo alguma coisa em – Wilcox começou, mas, de repente, se tornou pálido. – Bruce! – ele ganiu, e saiu do trem em disparada.

No final da estação, Bruce, com o que havia sobrado de um velho assento de trem, tentava abrir a passagem que levava ao galpão de Wilcox. O professor correu até ele, horrorizado.

- Bruce, o que está fazendo?!

- O que pareço estar fazendo? – Bruce tomou fôlego. Colocou o assento no chão. – Vou precisar desenhar?

- Você podia ter sido educado e... e pedido! Agora, seja um bom assistente. Não faça nada que eu não faria.

- Se não abrir, eu mesmo abro, mesmo que leve o resto do dia!

- Ainda sou seu superior, Bruce Glendoning!

- Talvez. Mas eu sou o homem com o assento.

Wilcox mordeu os lábios. Ele pescou um cordãozinho que mantinha em volta do pescoço, um molho de chaves que escondia sob a roupa.

- Ótimo – declarou, enfezado. – Chegue para lá.

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