Monday, September 11, 2006

Encontros e Desencontros (2003)

Bruce recostou-se em uma das cadeiras da cozinha, sentindo-se letárgico. Acompanhou os movimentos de Moira até que os olhos começaram a pesar.

- O que precisamos, você e eu, é de uma boa noite de sono. Talvez as viagens consumam energia demais.

Ele olhou para mesa; os cotovelos começaram a escorregar lentamente, enquanto Bruce lutava para se manter desperto. Ouvia os sons do fogão, o chiado da fritura. Líquido, copo, o vento da década de sessenta soprando, Wilcox rindo e o rangido dos trilhos do metrô.

Os trilhos fizeram com que arregalasse os olhos. Ergueu o rosto para Moira.

- Encontrar um buraco próximo? – ele quase gaguejou. – Voltar? Está pensando em voltar? Você realmente pensou nisso?

Moira deu de ombros, de costas para ele.

- Como eu poderia não pensar?

- Talvez... por causa de tudo que eu já disse? Você esteve lá.

- Exatamente.

- Não. Você esteve lá. Você viu o que a máquina pode fazer. É real. Imagine qualquer erro que possa parecer minimamente insignificante, no que se tornaria trinta anos depois. Ou cinqüenta, ou quarenta? Deus, onde é que Wilcox pode ter ido? Ele pode ter ido para qualquer lugar, em qualquer época.

- Você não entende, é óbvio.

Bruce se calou. Pensou no pai. Em como teria sido encontrá-lo em alguma época onde ele próprio não existisse. Não soube por que teria desejado tal encontro. Não soube por que Moira considerava uma nova oportunidade.

Os mortos estavam, afinal, mortos.

No comments: