Thursday, August 24, 2006

Um breve instante no tempo

Os cartazes indicavam os partidos para a eleição geral, que estava marcada para dali a duas semanas. O sorriso triste de Harold Macmillian, o líder do Partido Trabalhista, aparecia de vez em quando nos muros. Algumas pichações também corriam as paredes – nomes de partidos esquisitos apareciam em quase todos os cantos.


- Decididamente, estamos em 1974 – Wilcox disse em voz alta – Ou isso ou o tempo foi misericordioso com esses cartazes...


Bruce não parecia convencido, mas uma banca de jornal no caminho lhe forçou a ver a realidade: as manchetes anunciavam o fim da ditadura de Salazar em Portugal, os prognósticos para a eleição e a parada de sucessos: Suzi Quatro estava em primeiro lugar com “Devil Gate Drive”. Os três olhavam as notícias em silêncio, como se estivessem diante dos resquícios de outra civilização.

Um homem de longos cabelos escuros entrou na banca de jornal, as mãos escondidas dentro dos bolsos. Ele vestia um longo casaco preto, que parecia contrastar com seu rosto pálido e o corpo ossudo, magro como um palito.

- Matt! Chegou aí as revistas que eu encomendei?

- Nada ainda, sr. Harris.

- Por que é que você me chama de senhor? A gente tem a mesma idade! – o homem no casaco preto sorriu.

- Porque você é cliente, Arthur, e os clientes a gente chama de ‘senhor’.


Moira parou de andar de repente, como se tivesse tomado um soco. Arthur Harris?

E, no instante seguinte, tudo ficou escuro mais uma vez.

Ela abriu os olhos e viu somente o teto do trem.

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