Do lado de dentro, o trem parecia como qualquer outro trem de metrô em Londres: pequeno, com assentos estofados de um tom esquisito de verde. Só que a cabine de comando estava aberta e cheia de computadores. Era o brinquedo de Alphonsine Wilcox - a sua máquina do tempo.
O professor sentou-se orgulhosamente à frente dos comandos e ligou as engrenagens. Um ruído branco tomou conta do trem. Moira acomodou-se como pôde em um dos bancos, mantendo Bruce próximo. Ele estava verde outra vez.
- Le temps détruit tout, le temps reconstruit tout - Moira suspirou para si mesma.
Uma alavanca fora puxada e o trem se pôs em movimento, a princípio muito lentamente, dando voltas pelos trilhos circulares. À medida que ia pegando velocidade, Bruce ia ficando cada vez mais verde, afundando no banco do trem. Três minutos de “viagem” e o trem já estava a quase oitenta por hora, o que era uma velocidade temerária para um circuito que tinha, por baixo, sessenta anos. As luzes tremiam, as cadeiras balançavam, Bruce caiu no corredor.
- Wilcox! A quantos por hora esse troço chega? – Moira gritou, se segurando para não cair junto.
- Como? - o professor não escuatava nada por causa do barulho.
- A velocidade! Quanto é a velocidade?!
- Ah! Teoricamente, este trem chega a duzentos quilômetros por hora.
- Essa porcaria vai desmontar se chegar perto disso!
Foi quando as luzes do trem se apagaram e uma sensação de falta de gravidade tomou conta dos ocupantes. Pareceu durar uma eternidade – a exclusão da consciência de lugar, de tempo, de espaço, um zumbido muito fino cantando dentro da caixa craniana.
E de repente, o chão duro, a tontura, o ar que não chegava aos pulmões. Moira tateou o chão, a cabeça explodindo, o sangue sem saber se corria para o crânio ferido ou para as pernas, que ela jurava não conseguir sentir.
Um vento gelado, cortante, lhe atiçou os sentidos. Estava tocando uma calçada - pedras irregulares, arredondadas pelo tempo.
- Fez boa viagem, Moira? - Wilcox já estava de pé, dando pequenos pulinhos - Você vai aprender a aterrisar com o tempo... Espero que o Bruce aprenda. Eu acho que ele desmaiou, pobre coitado.
Thursday, August 24, 2006
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment