Wednesday, August 16, 2006

Estação West Rotherhithe

Moira respirou fundo, tentando controlar o coração que batia tremendamente descompassado. Então era verdade – era tudo verdade. Wilcox tinha conseguido quebrar a barreira do tempo, ou então era vítima da maior ilusão de ótica da História da Ciência e Tecnologia.

Agarrou o braço do professor e foi caminhando com ele para longe da porta do restaurante, na direção da Oxford Street. Àquela hora, eram tantas as pessoas na rua que seria impossível ouvir o que eles diziam com atenção. Por via das dúvidas, Moira foi puxando o chocado Bruce pela manga do terno.


- Wilcox. Eu não vou perguntar o porquê... Mas eu tenho que perguntar como! – Moira finalmente cuspiu as palavras que estavam grudadas no fundo da garganta – Como é que você conseguiu?

- Consegui o quê, amorzinho?

- Quebrar a porcaria da barreira, o que você acha?!

- Ah, mas isso é um truque ótimo que eu aprendi.

- Então vai ter que contar. Ou eu vou desprogramar o GPS e dou as coordenadas pro Fahrenheit comer, juro por Deus!


Wilcox considerou a ameaça, ou pelo menos fingiu muito bem. Parou na porta da estação de Oxford Street, pouco se importando se estava atrapalhando o fluxo dos pedestres ou não (e estava – muito). Moira e Bruce o encaravam, ansiosos. Bruce parecia feito de parafina, tamanho era seu temor.


- Está bem. Eu vou mostrar. Mas vocês vão ter que vir comigo – e apontou a estação.

- De volta pro Hampton?

- Não, não. Para West Rotherhithe.

- West Rotherhithe? – Moira pareceu confusa - Que estação é essa?


O professor entrou no metrô e não respondeu. Ainda puxando Bruce pela manga do terno, Moira seguiu o chefe pelas escadas e para dentro do trem, a essa altura já um pouco mais vazio. Viajaram em silêncio por mais de meia hora, baldeando duas vezes. Em determinado momento, Wilcox saltou do trem, na estação de Rotherhithe.

Moira seguiu em silêncio, observando a plataforma vazia. Aquela, decidiamente, não era uma estação para turistas – era apertada e um pouco suja, como as estações de metrô de Londres calhavam de ser às vezes.


- Você deve saber, Moira querida, que algumas estações de metrô são desativadas para reformas. Existe, porém, uma linha inteira que não funciona mais. Ela cruzava esta estação, Rotherhithe. Estamos do lado do rio Tamisa, só para sua informação.

- E o que isso nos ajuda?


Havia uma porta, escondida num canto da estação, com uma gritante placa de “NÃO ENTRE”. E Wilcox entrou, sem cerimônia. Seus assistentes lhe seguiram por um longo corredor, cada vez mais frio e pouco iluminado. E de repente as luzes retornaram, e Bruce e Moira entraram em uma estação de metrô dos anos 1930, com ladrilhos encardidos e forração de madeira nas escadas rolantes que há muito não viam o sol.

Uma placa na parede indicava: WEST ROTHERHITHE.

A nota destoante no cenário era um trem novinho em folha, acomodado nos trilhos de mais de meio século de idade. E computadores, muitos deles. Moira podia reconhecer alguns dos aparelhos – tinha consertado a maioria deles. E o GPS, jóia da coroa, estava bem acomodado em cima de uma mesa.


- Você transformou o trem num acelerador? - Moira parecia embasbacada. Tinha agarrado a mão de Bruce, tamanho seu susto, e não se dera conta do fato.

- Oh, sim. Muito mais charmoso que um DeLorean qualquer, não? – Wilcox estava feliz da vida, quase saltitando pelo laboratório subterrâneo – E ainda tem saída para o galpão nos fundos da minha casa. É genial, não é? Ou seria genial, se eu conseguisse voltar para o mesmo lugar de onde eu saí. Semana passada eu caí dentro do rio. Isso não é bom.

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