Tuesday, August 15, 2006

Quando todas as visitas inconvenientes de Wilcox são explicadas

Wilcox sorriu.

- Vocês não demoraram muito, eh? Mais um pouco e eu teria ido comprar pipocas. Eles servem pipocas com calda de caramelo, ouvi dizer. Aqui, nas ruas. Lugar estranho.

Bruce não respondeu. Estava quase boquiaberto, sentindo-se um boçal. Não sabia se era melhor acreditar em Moira, em Wilcox ou na vozinha de sua própria consciência, aquela que lhe dizia que desistir de tudo, passar numa locadora e levar um DVD da Sandra Bullock para casa não seria uma experiência tão traumática quanto a poderia estar por vir.

- Está bem, Wilcox – Moira foi a única a falar. – Estamos ouvindo. Pode contar.

- Vão me dar algum crédito? – o professor estudou as unhas da mão esquerda com muito interesse. – E por que eu diria alguma coisa, depois do tratamento que recebi?

Bruce cerrou os dentes:

- Por favor.

- Certo. Então lá estava eu, no sossego do meu laboratório, quando fui visitado por um anjo: Eu mesmo, três meses mais velho.

- Continue.

- O eu de três meses à frente tinha conhecimento pleno do funcionamento da máquina e me ajudou a terminar de construí-la. Resolvemos alguns probleminhas aqui, outros ali, e tive minha primeira experiência no tempo.

- O restaurante?

- Não. Muito mais ousado do que isso. Visitei a minha infância!

Wilcox tirou de um dos bolsos um medalhão de ouro, com um emblema gravado.

- Vê? O brasão da minha família. Eu o tinha desde pequeno, mas o perdi aos treze anos de idade. Sempre achei que tivesse sido roubado por um velho maluco, mas não – o eu do futuro que o levou. Aqui, aqui atrás está a data. Estão vendo? Novo e brilhante demais para algo que foi feito no início do século passado, ahá. Não é incrível? – Wilcox colocou a jóia na palma de uma das mãos e a acariciou. – Feito em 1916. Mais de cem anos se passaram e este medalhão não presenciou nem a metade.

Guardou o medalhão no bolso, cantarolando.

- Depois veio Camden Town. Não pude tirar muito proveito da viagem, uma das secretárias da faculdade, por obra infeliz, acabou me reconhecendo.

- Elizabeth – Bruce murmurou, pálido.

- Ah, a própria!

- E então o restaurante? – Moira perguntou.

- E então o restaurante. Eu sabia que meu maior problema seria convencer vocês, e não vou poder fazer isso de verdade até que tenham visto a máquina e presenciado seu funcionamento.

- Você está louco, Wilcox – Bruce fechou os olhos.

- É provável. Vocês têm lido o jornal? Caí em cima de um senhor na semana passada, a caminho do restaurante, e espero que ele não tenha morrido. Seria lamentável, simplesmente lamentável.

1 comment:

Anonymous said...

analisando friamente eu diria que se ele não tivesse roubado o prórpio medalhão, hj o nome wilcox seria símbolo da maior rede de pipoqueiros de rua de Londres.