Thursday, June 01, 2006

Mais um pouco de chá com leite e a nova babá

O Prof. Wilcox grunhiu, desconcertado. Bruce deu um sorriso amarelo e, não havendo mais ninguém para quebrar o silêncio, tomou a xícara nas mãos e se despediu:

- Eu não tenho nada na carteira, professor. É sua decisão. Boa sorte.

Deixou os dois sozinhos, fechando a porta atrás de si. O corredor estava praticamente vazio; a secretaria era um oásis de luz e calma. Elizabeth trabalhava em sua mesinha, os óculos insistindo em escorregar do nariz oleoso. Bruce abriu um sorriso estranho e balançou, com muita leveza, sua xícara.

- Alô, Elizabeth. Eu preciso de leite.

Elizabeth suspirou, mas sua caneta marca-textos continuou frisando parágrafos e parágrafos de algum tópico que, a Bruce, dada a carranca da mulher, parecia o mais desinteressante possível. Elizabeth interrompeu-se de súbito. Olhou-o com raiva:

- Você tem mãos, Glendoning – e mostrou as próprias mãos, uma delas borrada de tinta. –Duas.

Bruce escondeu a mão desocupada.

- Eu nunca tive ninguém para me servir, e você é boa e prestativa, Elizabeth. Você é. Na verdade, é a minha favorita. E, vindo da boca de qualquer outra pessoa, sei que o meu elogio pareceria uma tentativa... inútil de amolecer o seu coração enegrecido e, quem sabe?, ganhar alguns privilégios, mas não, não no caso. Não há nobreza que se compare à minha. – ele ameaçou sentar em cima da mesa. – Quer que eu fale da minha infância? Ainda carrego traumas.

Quando estavam os dois degustando o chá frio, Elizabeth começou, sem que fosse requisitada, a palpitar sobre Moira. Bruce recebeu os comentários em silêncio, balançando a cabeça.

- Um pouquinho sem graça e muito nova. Ela já é formada? Porque parecia um cachorrinho perdido – e Elizabeth adquiriu um tom mais sério. – Acha mesmo que o professor vai contratar uma mulher?

Bruce deu de ombros.

- Eu não sei. Não me arrisco a dizer o que se passa pela cabeça dele.

Elizabeth, engolindo o chá, ergueu as sobrancelhas em surpresa, lembrando-se de uma coisa:

- Glendoning, eu não lhe contei, mas ontem vi o professor em Camden Town.

- Camden Town? – Bruce livrou-se da própria xícara. Cruzou os braços. – O que ele estava fazendo em Camden Town?

- Foi o que eu me perguntei, você entende, mas nem pude dizer ‘oi’. Um piscar de olhos e – ela estalou os dedos. – Ele havia desaparecido. Estranho, não?

Quase meia-hora depois, o professor encontrou Bruce no corredor. Caminhava sem fazer barulho, parecendo temer que alguém estivesse perseguindo-o.

- Bem, meu caro Bruce. O que você acha? E seja sincero.

- Moira Harris?

- É claro.

- Ela parece saber o que faz. - forjou um sinal positivo com o polegar - Ei, ela conserta computadores.

- E?

- Eu não consigo nem desentupir minha caneta-tinteiro, se formos pensar.

- Sim. E o que mais?

- Professor, - Bruce fez uma pausa. - Eu faria uma avaliação um pouco mais detalhada se eu ao menos soubesse o que o senhor está procurando. Porque eu não sei, se ainda não percebeu.

- Sim.

- Esta é a minha cara de confusão. Está vendo? Sou eu confuso.

- Eu disse a ela que pode ficar um mês conosco. Como experiência. Fiz bem, Bruce?

Bruce não disse nada, aproveitando aquele pequeno momento de terror. O professor apertava os nós dos dedos, nervoso.

- Talvez. Não é a pior besteira já cometida pela humanidade. Talvez tenha feito bem.

- Ótimo. Excelente, na verdade! Porque vou precisar da sua ajuda, Bruce. Vai ser a babá dela – e deu um tapinha amigável no ombro do assistente. – Boa sorte.

- O quê?!

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