O Prof. Wilcox grunhiu, desconcertado. Bruce deu um sorriso amarelo e, não havendo mais ninguém para quebrar o silêncio, tomou a xícara nas mãos e se despediu:
- Eu não tenho nada na carteira, professor. É sua decisão. Boa sorte.
Deixou os dois sozinhos, fechando a porta atrás de si. O corredor estava praticamente vazio; a secretaria era um oásis de luz e calma. Elizabeth trabalhava em sua mesinha, os óculos insistindo em escorregar do nariz oleoso. Bruce abriu um sorriso estranho e balançou, com muita leveza, sua xícara.
- Alô, Elizabeth. Eu preciso de leite.
Elizabeth suspirou, mas sua caneta marca-textos continuou frisando parágrafos e parágrafos de algum tópico que, a Bruce, dada a carranca da mulher, parecia o mais desinteressante possível. Elizabeth interrompeu-se de súbito. Olhou-o com raiva:
- Você tem mãos, Glendoning – e mostrou as próprias mãos, uma delas borrada de tinta. –Duas.
Bruce escondeu a mão desocupada.
- Eu nunca tive ninguém para me servir, e você é boa e prestativa, Elizabeth. Você é. Na verdade, é a minha favorita. E, vindo da boca de qualquer outra pessoa, sei que o meu elogio pareceria uma tentativa... inútil de amolecer o seu coração enegrecido e, quem sabe?, ganhar alguns privilégios, mas não, não no caso. Não há nobreza que se compare à minha. – ele ameaçou sentar em cima da mesa. – Quer que eu fale da minha infância? Ainda carrego traumas.
Quando estavam os dois degustando o chá frio, Elizabeth começou, sem que fosse requisitada, a palpitar sobre Moira. Bruce recebeu os comentários em silêncio, balançando a cabeça.
- Um pouquinho sem graça e muito nova. Ela já é formada? Porque parecia um cachorrinho perdido – e Elizabeth adquiriu um tom mais sério. – Acha mesmo que o professor vai contratar uma mulher?
Bruce deu de ombros.
- Eu não sei. Não me arrisco a dizer o que se passa pela cabeça dele.
Elizabeth, engolindo o chá, ergueu as sobrancelhas em surpresa, lembrando-se de uma coisa:
- Glendoning, eu não lhe contei, mas ontem vi o professor em Camden Town.
- Camden Town? – Bruce livrou-se da própria xícara. Cruzou os braços. – O que ele estava fazendo em Camden Town?
- Foi o que eu me perguntei, você entende, mas nem pude dizer ‘oi’. Um piscar de olhos e – ela estalou os dedos. – Ele havia desaparecido. Estranho, não?
Quase meia-hora depois, o professor encontrou Bruce no corredor. Caminhava sem fazer barulho, parecendo temer que alguém estivesse perseguindo-o.
- Bem, meu caro Bruce. O que você acha? E seja sincero.
- Moira Harris?
- É claro.
- Ela parece saber o que faz. - forjou um sinal positivo com o polegar - Ei, ela conserta computadores.
- E?
- Eu não consigo nem desentupir minha caneta-tinteiro, se formos pensar.
- Sim. E o que mais?
- Professor, - Bruce fez uma pausa. - Eu faria uma avaliação um pouco mais detalhada se eu ao menos soubesse o que o senhor está procurando. Porque eu não sei, se ainda não percebeu.
- Sim.
- Esta é a minha cara de confusão. Está vendo? Sou eu confuso.
- Eu disse a ela que pode ficar um mês conosco. Como experiência. Fiz bem, Bruce?
Bruce não disse nada, aproveitando aquele pequeno momento de terror. O professor apertava os nós dos dedos, nervoso.
- Talvez. Não é a pior besteira já cometida pela humanidade. Talvez tenha feito bem.
- Ótimo. Excelente, na verdade! Porque vou precisar da sua ajuda, Bruce. Vai ser a babá dela – e deu um tapinha amigável no ombro do assistente. – Boa sorte.
- O quê?!
Thursday, June 01, 2006
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