Tuesday, June 27, 2006

Festa em Sandringham

Finnegan, mochila nas costas, estava esperando na entrada do colégio, estapeando o uniforme quase impecável para livrar-se da poeira do giz. Alguém chamou seu nome e ele, assustado, ergueu a cabeça. Foi até Bruce quando o viu se aproximar. Cumprimentou-o com embaraço.

- Alô. Onde estão suas coisas? – Bruce indagou.

- Aqui – Finnegan tirou a mochila. – São apenas dois dias.

A viagem até Sandringham, pelo fato de Bruce não ser dono de um carro, exigia uma parada em Norwich. Finnegan comprou um pacote de doces. Pela voracidade com que os engoliu, Bruce achou que açúcar fosse um artigo raro no colégio interno.

- Por que você ainda não tem um carro? – Finnegan tinha a boca tão entupida de minhocas de gelatina que Bruce mal entendeu a pergunta. – Seu carro.

- Meu... ? Ah. Carro é um gasto dispensável. Eu raramente preciso de um.

- Querem me dar um carro quando eu sair do colégio.

- Mamãe?

- Meu pai.

Finnegan ofereceu um bolinho de mel, mas Bruce recusou. Passou a viagem olhando para a janela, enquanto o irmão lia as revistas em quadrinhos que trouxera junto das roupas. Em determinado momento, Bruce petrificou-se.

- O que é isso?

Finnegan olhou para o uniforme e os próprios sapatos.

- O quê? Onde?

- Na capa da sua revista.

- Ah. Uma máquina do tempo. Mutantes viajando no tempo.

- Deus.

- Parece estúpido, mas é legal.

Bruce encostou a cabeça no banco do ônibus e fechou os olhos. Uma vez em Sandringham, Honoria recebeu Finnegan com um abraço apertado. Ela tinha os cabelos enrolados em uma touca e a maquiagem quase pronta. A mansão de Robert O’Hara, um campo vistoso em volta, era uma das construções mais novas da região. Bruce, nas raras vezes em que a visitava, nunca deixava de se surpreender.

- Bruce – Honoria o beijou com cuidado. – Que bom ter os dois aqui. Já preparei o seu quarto.

- Parece gentil, mas eu não preciso ficar mais de um dia.

- Mas é claro que precisa. Quem vai levar Finnegan de volta?

Finnegan sorriu, os lábios melados de açúcar.

- Ele não pode... voar de volta para Londres?

- Não.

- Por que crianças não aprendem a voar?

- Ter dezesseis anos faz de mim um adolescente – Finnegan corrigiu.

- Adolescência não existe.

Os convidados chegaram com o entardecer. Quando Bruce desceu, um grupo de meninas emburradas já ocupava a mesa da sala de estar. Ele foi, guiado por vozes, para o jardim. Tudo era iluminado e havia música provida de um violino. Não pôde reconhecer quase ninguém.

- Mãe. Onde está Robert?

Honoria parecia bonita e exultante, os cachos loiros balançando conforme ela voltava a cabeça. Conversava com um senhor do qual Bruce se lembrava vagamente. Ou talvez só estivesse confuso.

- Ah, justamente! Eu o vi há pouco. Estava procurando você – Honoria o segurou pelo braço. – O que está achando da festa?

- Aturável, para uma festa – ele sorriu e cumprimentou o homem. – Como vai?

O homem estendeu a mão.

- É este o seu filho mais velho? Bruce? Eu já o vi, quando era pequeno.

- Me desculpe. Eu realmente não me lembro do seu nome. É muito comum, eu apago pedaços da minha vida.

- Bruce, este é Edward – Honoria fez as honras. – Edward, Bruce é o filho do meu primeiro casamento, como já sabe.

- Também conheci seu pai.

- Todos os freqüentadores do pub The Trooper também conheceram. Ele era popular.

- Bruce gosta de usar o sarcasmo para lidar com situações difíceis.

- Obrigado, mãe.

1 comment:

Anonymous said...

Hhhhhmmmmmffff... (ruído de ansiedade pelos próximos capítulos)