Monday, June 05, 2006

Em Hampton

Bruce colocou a caixa no chão. Tocou a campainha pela terceira vez e aguardou, batendo, impaciente, a testa contra a porta. Mike, o filho de uma das vizinhas, acompanhava de longe. Segurava um gravetinho que usava para estalar nas barras de grades e portões. Bruce precisou implorar para que ele parasse.

- Você veio andando? – o menino perguntou, a voz abafada; estava enrolado em um cachecol grosso e colorido, com estampas de ovos de Páscoa.

Bruce hesitou antes de virar-se para ele. Seu humor para conversas decaía no mesmo ritmo da temperatura.

- Sim. Andando, completamente.

- Nossa! Você é louco. São seis da manhã.

- Obrigado, Michael. Eu peguei o metrô primeiro, se interessa. Uma pergunta: sua mãe sabe que você está na rua? Será que ela vai ficar feliz quando souber?

Mike pareceu enfezado, mas não quis responder. Foi embora, deixando Bruce tremer de frio em total privacidade. Quando o professor apareceu, chinelos e roupão, o cabelo espetado, não reconheceu o assistente de imediato. Depois, arregalou os olhos e começou a se desculpar.

- Céus! Eu me esqueci completamente de que você vinha!

- É um bom começo. Posso entrar?

O professor pediu para que Bruce deixasse a caixa sobre a escrivaninha do escritório. Serviu uma bebida aquecida e de cheiro forte. Bruce recusou – ao invés disso, sentou-se no sofá, esfregando os braços. Fahrenheit dormia no tapete, a língua rosada de fora.

- E a garota, Moira?

O professor sorriu.

- Não se preocupe com Moira, ela virá mais tarde. Vamos precisar arrumar a bagunça. Não quero assustar uma nova contratada.

Bruce assentiu, um pouco furioso.

- Por que o galpão está trancado? – perguntou.

O professor deu um sorriso estudado e mudou de assunto.

No comments: