Wednesday, August 01, 2007

Monstros

Quando desceram do trem, Bruce puxou discretamente o braço de Moira.


- Um maluco apareceu na minha sala de aula. Ele disse que se chamava Peter.


Moira não respondeu. Ela estalou a língua e pareceu ausente durante um ou dois instantes, como se procurando assimilar o que acontecia.


- E então?

- Sim – foi o que Moira disse.

- Sim? Quem é Peter? Porque eu sei, e Deus sabe, que existem muitos homens chamados Peter por aí, mas algo me diz que o Meu Peter e o Seu Peter são o mesmo Peter.

- O que estão fazendo? – Stella se aproximou. – A plataforma está ficando muito cheia.


Bruce notou o olhar quase faminto que alguns homens recostados na parede dirigiam ao trio. Ele não sabia o quanto as pessoas eram miseráveis naquele futuro, mas tinha uma vaga idéia. Empurrou levemente Moira para junto da mãe e caminhou ao lado das duas, afastando-se daquela área.


Bruce voltou-se para Stella assim que deixaram a estação:


- Onde fica o The Trooper?

- Mas você não sabe? – Stella perguntou, risonha.


A resposta pareceu entalar na garganta de Bruce. Ele grunhiu e deu de ombros.


- Bruce não foi criado em Norwich – Moira se apressou em dizer.


E então ela arregalou os olhos, ciente da própria gafe.


- Eu fui, é claro que fui, Moira – Bruce riu, levemente desesperado. – Mas eu saí já há muito tempo. Londres consumiu toda a parte do cérebro que eu dedico ao mapeamento mental de cidades.


Poderia existir uma desculpa pior? Um Bruce de dez anos ergueu a cabeça quando a porta foi aberta. O professor, perplexo, olhou para o garotinho – uniforme em ordem, ausência em classe não percebida: “Como conseguiu a chave desta sala?”; “Eu encontrei debaixo do meu travesseiro”.


- Sempre posso piorar as coisas.

- O que disse?

- Nada. Não seria melhor pegarmos um táxi ou algo assim?


Stella gargalhou.


- Você é engraçado, Bruce. Não confiaria a integridade física de nem mesmo um saco de açúcar a um táxi que circule por aqui.


Caminhar não seria um problema, Bruce decidiu. Ele precisaria de tempo para digerir o inevitável encontro com um pai que estava morto há mais de vinte anos.


- Está se sentindo bem? – Moira murmurou.

- Eu preferiria ter descoberto que sou casado com a Golda Meir do que precisar rever o meu pai. Apenas uma forma alegórica de demonstrar como eu me sinto no momento.

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