Thursday, November 30, 2006

A vida como ela é

A semana seguinte foi das mais absurdas de que Bruce se recordava. Edward havia deixado o hospital; Honoria, por precaução, estava em Norwich.

De volta a Londres, cumprindo sua palavra, Moira não reapareceu. Mas Wilcox também não, e Bruce, em uma terça-feira, sentado no gramado do quintal, observando o galpão fechado, ficou imaginando se acaso o professor não deletara a própria existência, impedira seu próprio nascimento para se redimir.

Mas os sinais de Wilcox ainda estavam lá; Fahrenheit, a bagunça usual, bilhetinhos grudados nos lugares mais inusitados, com instruções que Bruce seguia mecanicamente, feito um robô.

O silêncio da casa, que antes apreciava, agora só fazia incomodá-lo.

Quando Rose ligou, foi como colocar a cereja no topo do bolo.

- Você não deu mais notícias – ela acusou. Bruce sabia o que viria em seguida.

- Rose... eu nem posso começar a explicar o que foram os últimos dias.

- Ele morreu?

- Quem?

- O homem que estava morrendo.

- Não, não morreu. Está vivo. Está bem. Obrigado por perguntar.

- Bom. Quando vou poder ver você?

- No dia em que eu achar uma forma de encontrar quem roubou a minha rotina, enchê-lo de pancadas e tomá-la de volta.

- Está tentando ser engraçado, Bruce?

- Eu bem que gostaria.

- Eu poderia lembrá-lo de que vou participar de um desfile no sábado, mas não vejo motivos. Você, é claro, não vai comparecer.

Bruce esfregou os olhos. Não era capaz de imaginar como seria um desfile de moda, e tinha até certo medo de se permitir pensar a respeito.

- Você supõe demais. Quando vai ser?

- Sábado. Eu disse.

- Sábado, que horas, florzinha?

- Vai começar às seis da tarde, mas eu vou precisar estar lá desde manhã, então...

- Estarei lá às cinco. Rose, preciso voltar ao trabalho. De verdade.

Rose respirou fundo.

- Muito bem. Eu ligo mais tarde.

Bruce guardou o celular no bolso. Sem hesitação, pegou o casaco e saiu.

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