O carro parou, com um solavanco, na frente da igreja. Quatro passageiras seguraram as saias dos vestidos. Abigail abriu um espelhinho de mão e inspecionou o próprio rosto – arregalou os olhos, horrorizada, e tocou uma bochecha com a luva branca.
- Vamos lá. É hora, enfim – a mãe de Abigail disse, tomando o espelho da filha e guardando-o dentro da bolsa. Usava um vestido azul, liso, e nenhum apetrecho, o cabelo bastante cacheado e carregado de laquê.
Abigail comprimiu os lábios, pensando se teria sido mesmo uma atitude conveniente. Louisa, uma das madrinhas, tinha a dama de honra sentada no próprio colo. A menina era gorduchinha e usava um chapéu florido. Parecia entediada.
- O que foi? – Louisa perguntou, permitindo que a dama de honra, antes que começasse a choramingar, descesse do carro – Está com medo?
- Aquele maldito Alphonsine Wilcox não vai aparecer – Abigail afirmou, cheia de repúdio.
O pai da noiva se aproximou para recebê-la. Estava irrequieto dentro do smoking escuro, dez vezes mais hostil do que o habitual. Estendeu a mão para a filha e não conteve uma pergunta:
- Onde se enfiou o Alphonsine?
Abigail fez cara de choro, descendo do Rolls-Royce. Ela se agarrou ao braço de Louisa, que quase tropeçou, puxada com violência antes de ter a chance de se equilibrar nos saltos dos sapatos.
- Ele não está aqui? Eu disse que ele não viria!
- Não entre em pânico – Louisa ajeitou a tiara florida.
- Eu não vou entrar na igreja sem que Alphonsine esteja dentro dela, ou juro por Deus...
A mãe de Abigail juntou-se a eles em passinhos descuidados:
- Onde está Alphonsine? Abigail? Por que está chorando? Pare com isso, está estragando a maquiagem.
Abigail afundou o rosto nas mãos e começou a soluçar. Não lhe importava a felicidade conjugal – só não queria que um paspalho como Wilcox a fizesse de boba na frente de mais de cem convidados.
- Eu não vou entrar na igreja!
- Ora, vamos, pare de chorar. Volte para o carro. Você vai com ela, Louisa. Seu pai e eu vamos ficar esperando.
A noiva e Louisa, erguendo as saias do vestido violeta, voltaram a entrar no Rolls-Royce. O motorista se assustou com a invasão.
- Hugh – a mãe de Abigail encheu a voz de autoridade, voltando-se para o marido. – Vou voltar para dentro e interrogar o pai dele. Se a situação não estiver resolvida em dez minutos, mande os garotos atrás do bastardo.
Bruce e Moira se esconderam perto de uma das pilastras. Um ciclista havia lançado um olhar suspeito aos dois, ao vê-los atravessando a praça.
- É ela? A ex-mulher do Wilcox? – Bruce indagou, incrédulo. O rosto enfurecido, trancado dentro de um carro de luxo, inspirava intolerância a tudo que o professor pregava e idolatrava, de Marylin Monroe à coleções de meias com estampas xadrez.
- Eu diria que sim.
- Não me parece o tipo de mulher capaz de coexistir com ele sob um mesmo teto – Bruce sorriu. – Não. Definitivamente.
- Você e o professor compartilham da mesma opinião.
- Devemos entrar na igreja?
- Não é com o Wilcox do passado que precisamos nos preocupar.
Saturday, October 07, 2006
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