Tuesday, September 19, 2006

Setenta e três

Moira e Bruce saíram do cinema andando muito próximos um do outro, às gargalhadas. A sessão fora interrompida uma vez, depois que o senhor de boina dormiu e começou a roncar horrivelmente na primeira fila, o que causou uma onda de risos e muita reclamação por parte de Bruce, que queria ver a cena da fonte sem a trilha sonora de alguém dormindo.

Ele ligou o celular. Sete mensagens de Rose, nenhuma de Wilcox.

- Eu acho que ele não sabe para que serve um telefone – Bruce deu de ombros.

- Bom, tanto melhor que ele não tenha ligado. Seria complicado achar uma desculpa.

- Ficar com medo do trabalho não é desculpa.

- Difícil de acreditar, quando você não lida com animais selvagens, terroristas ou crianças do primário...

- Você ainda vai se arrepender de dizer isso, mocinha.


A última frase viera distante, o que forçou Moira a voltar-se para trás.

Era Wilcox. Mas ao mesmo tempo, não era Wilcox. Era alguém parecido com ele, apoiado em uma bengala, o rosto amarelo e fraco, muito mais velho. Ainda vestia-se com apuro, mas o cabelo tinha há muito lhe abandonado e os olhos não tinham o mesmo brilho. Estava doente, francmanete em decadência, o corpo projetado para a frente como se tudo lhe doesse.

Bruce pensou em dizer que aquilo parecia um disfarce muito bom. Mas o modo como Wilcox olhava – com dor, com cansaço – era por demais genuíno.


- Professor! – Moira se assustara.

- Eu estou vindo de longe. De treze anos no futuro – a voz de Wilcox não saía da garganta, parecia perder-sen o caminho – E tenho muito pouco tempo, Moira, meu anjinho. Nos dois sentidos. Esse buraco temporal vai acabar em breve... E eu também.


Antes que qualquer um dos dois jovens respondesse, ele continuou.


- Eu estou vindo de novembro de 2019, querida. Daqui a um mês, no meu espaço-tempo, eu vou morrer... Por causa de um erro que eu cometi neste dia. Hoje. Enquanto vocês estavam no cinema, pondo em marcha o que vai ser o futuro de vocês dois juntos e mais não posso dizer, eu estava em West Rotherithe. Eu cometi um grande erro. E eu preciso que vocês me impeçam, porque esse erro vai me matar!



O Wilcox do futuro começou a tossir, e Bruce o amparou com cuidado. Parecia tão estranho que aquele homem fosse o mesmo professor elétrico e excêntrico para o qual trabalhava há quatro anos.


- E eu preciso impedir. Preciso impedir mas não alcanço...

- Para onde o senhor foi? – Bruce perguntou.


Wilcox continuou tossindo. Ele começara a desaparecer.


- Eu fui atrás de mim mesmo. Impedir eu mesmo de me casar com aquela...


No segundo seguinte, ele desaparecera, como uma miragem.

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