O pequeno Alphonsine Wilcox tinha o queixo do pai e os cabelos da mãe. Gostava de mexer em criaturas gosmentas e de realizar experiências com sabão e vinagre.
- Hoje é a coroação da Princesa Elizabeth – informou o garoto, o peito inflado de orgulho. Era baixo para a idade.
O outro Wilcox sorriu. Aquele Wilcox já não tinha dentes bonitos e nem um fio de cabelo loiro no topo da cabeça. Tomou notas em um bloquinho de mão. Seu comportamento fascinava o mais novo.
- O senhor é meu tio ou alguma coisa? – o Wilcox do passado perguntou. – Mamãe sempre fala de um irmão que foi lutar na Guerra.
- Não, não. É diferente. Quero dizer, embora partilhemos a mesma carga genética – a exata carga genética, na verdade – e aqui esteja eu, aos sessenta e quatro anos, as coisas ficariam melhores se você me chamasse de vovô. Mas é só uma divagação.
- O quê, o quê?
- Ah! Eu me lembro dos seus sapatos. Sapatos bonitinhos, meus prediletos.
O pequeno Wilcox olhou para os próprios pés. Os sapatos escuros estavam sujos de terra, esmagando minhoquinhas e caramujos. Ele estava vestido com toda pompa necessária para um dia de coroação.
- Oh, mamãe vai ficar zangada.
O Wilcox adulto estremeceu.
- Mamãe. Vai, vai sim. Eu também me lembro.
Uma das empregadas da casa começou a chamar o nome de Alphonsine, que ecoou pelo campo. O garoto se assustou, agachou e recolheu suas ferramentas de trabalho.
- Preciso ir. É a Emma.
- Emma? Emma, cara de rato?
- É, ela tem mesmo. Vou ver o senhor de novo, vovô?
- Daqui a cinqüenta anos, mais ou menos.
- Quanto tempo!
- Você vai viver, meu pequerrucho, não se preocupe.
O pequeno Wilcox acenou enquanto corria para casa. Não tinha dotes atléticos, via-se de longe. O Prof. Wilcox não se lamentou. Sabia que aquela inaptidão quanto às atividades físicas o levaria, eventualmente, ao tapete da biblioteca do pai, onde enfim desenvolveria sua maior paixão. Marilyn Monroe.
Tuesday, July 18, 2006
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