Monday, June 19, 2006

Pas d'passé, pas d'avenir

J'ai tout cassé
Avant d'partir
J'ai pas d'passé
J'ai pas d'avenir
("Banilieue Nord", do musical "Starmania)
(Eu destruí tudo
antes de ir embora
eu não tenho passado
eu não tenho futuro)
Norwich dormia o sono dos justos quando Moira chegou na casa do avô. Edward Morris morava no andar de cima de sua loja de produtos para jardinagem, num lugar que parecia cada vez menor, tamanha a quantidade de coisas que o velho Edward guardava.
A casa tinha um cheiro característico: madeira encerada, flores, feijão em lata (Edward comia no café, apesar das ordens contrárias de metade da classe médica de Norwich). Os porta-retrtatos, que Moira não gostava de ter em seu apartamento, se acumulavam nas paredes da casa: Stella numa bicicleta, no uniforme de bandeirante, na faculdade (com as mãos ao redor de Arthur Harris, cabeludo e muito magrelo), na formatura e no casamento.
Moira sabia que Stella era uma mulher teimosa. Todas as fontes diziam isso, para comparar com o "gênio dócil" de Moira, provavelmente herdado de Arthur Harris. Pensava em silêncio como teria sido viver com os dois - será que ela teria fugido de casa ou viveria com os pais até os trinta? Teria irmãos? Seus pais ficariam casados até o fim, ou se divorciariam no meio do caminho?
Era complicado pensar em suposições. A idéia de viagem no tempo, especialmente quando Wilcox a elaborava de maneira tão leviana, lhe incomodava mais do que gostaria de admitir. Daria qualquer coisa para voltar no tempo por um instante e poder ver os pais vivos - pelo menos para ter uma idéia de como eles eram fora das fotografias.
- Moira, você não vai dormir?
Edward aparecera no corredor, vestido com o velhíssimo pijma de flanela azul que a esposa tinha feito há muito tempo atrás.
- Já vou, vovô. Não sinto sono ainda.

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