Tuesday, June 27, 2006

Em Piccadilly

Rose, sem aviso, parou em uma revistaria. Saiu de lá armada de pelo menos meia dúzia de exemplares de moda. Bruce, que havia esperado do lado de fora, sorriu, mas Rose pareceu empertigada. Os dois passeavam em Piccadilly, o dia quente - por milagre - e a rua infestada de pessoas.

- Moira, ela parece o tipo estudioso – Rose comentou, folheando as revistas. – Tem quantos anos?

- Não sei. Vinte e cinco? Talvez.

- Nova demais.

- Foi um palpite. Eu não sei a idade dela.

Rose assentiu e abriu outra revista. Depois de olhar por muito tempo para a mesma fotografia, sorriu de modo depreciativo.

- Veja – exibiu uma modelo morena e muito magra. Tinha o rosto maquiado com cores amarelas. – Foi minha colega. O que acha?

- Ela parece um esqueleto – Bruce respondeu.

- Agora me sinto melhor.

Rose rasgou a folha, amassou-a e a atirou no primeiro lixo que viu. Os dois estabeleceram uma pausa para tomar café. Bruce pediu um suco de laranja; o balconista o olhou com misericórdia.

- Onde é que estava o Wilcox? – Rose perguntou.

- Não faço a menor idéia. E tenho certeza de que jamais saberei. Acontece, simplesmente. Num momento ele está lá, no sofá, inofensivo, e no outro pode estar sentado em cima da geladeira enquanto segura uma serra elétrica.

- Falo sério. Já considerou mudar de emprego?

Bruce riu.

- Já. Mas então me lembrei de que dificilmente eu voltaria a ganhar o que Wilcox me paga.

- Dinheiro não é tudo.

- Sabe que não é o que eu penso, cabeça-oca.

- Você era um bom professor.

- Rose, eu era horrível. Se eu tivesse tido aulas comigo mesmo, teria abandonado o colégio. E os pais... os pais não gostavam nem um pouco de mim. Como é que eu poderia esperar algum respeito?

- Bobagem. Não gostavam porque você tinha senso de humor.

- E eu ainda tenho. É por isso que não posso voltar a dar aulas para o primário.

- Já salvou o pescoço de muitos alunos.

- O que não me torna mais qualificado. E por que tocou no assunto? Aquele pessoal da escola andou ligando?

Rose ergueu os olhos da xícara bonitinha de café, gorda e colorida, e pareceu séria ao encarar Bruce.

- Ninguém andou ligando. Só estou preocupada.

- Com o quê?

- Com o fato do seu chefe ser a pessoa mais instável que eu já vi. Ele é simpático - de um modo geral. Mas estranho.

- Sei lidar com Wilcox. Ele é uma ameaça para qualquer outro mortal, mas não para mim.

- Claro.

Rose abriu outra revista. Bruce sabia o que ela procurava: mais rostos conhecidos. Sua estréia no mundo da moda havia sido sobre uma passarela, mas a carreira não tinha vingado – consideravam-na acima do peso para desfilar. E, por mais rígido que fosse o regime, Rose não era capaz de se livrar da maldição que corria pela família, ossos largos que preenchiam uma silhueta.

- Acho você bonita – Bruce disse, para o espanto da garota.

Rose fechou as revistas e ficou corada.

- Obrigada.

Bruce abriu um sorriso estranho e tomou o resto do suco.

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