Tuesday, May 30, 2006

Do início das inúmeras reclamações de Bruce Glendoning

Meu pai costumava dizer que existem somente duas maneiras de um homem evitar a loucura, sendo elas a) beber e b) beber mais um pouco. Quando ele morreu em decorrência de um coma alcoólico, eu decidi, e me agarrei ao ideal, que o caminho da loucura era o meu caminho. A decisão que tomei aos oito anos de idade pode explicar o que foi feito da minha vida profissional.

Hoje, quando cheguei, o cachorro estava em cima do sofá.

- Não é o cachorro que ficava revirando as latas de lixo? – perguntei. – O que ele está fazendo aqui?

O professor estava lavando as mãos e não ouviu, então fui obrigado a repetir. Ele saiu do banheiro parecendo contente, do modo particular que só uma pessoa insana é capaz de parecer.

- É, não é? – disse. – Ele é tão bonzinho. Não me mordeu. Graça, graça de cachorro. Paguei para que o Mike, Mike, o filho daquela senhora... Mike, pois então, desse banho nele. Não está bom? Não está?

- Desculpe, eu não entendi. Vamos ficar com o cachorro?

- Fahrenheit.

- O nome do cachorro é Fahrenheit?

- Bem, foi uma coisa do acaso. Eu estava arrumando alguns livros e ele... – e fez uma pausa. – Você está bem, Bruce?

- De certo modo. Eu estava atingindo o Nirvana. Mas continue, continue.

- Eu sei que você não tem lá grande afeição por bichos, mas não é mais agradável ter uma segunda companhia?

Fui obrigado a passar o resto do dia evitando deixar papéis soltos por aí. Em determinado momento, o professor resmungou sobre o infortúnio de ninguém haver respondido ao anúncio de emprego. Troquei um olhar de cumplicidade com o cachorro. Foi a única vez, e não tornará a acontecer de novo.

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