Bruce abriu a porta e foi envolvido por cheiro de molho de tomate. Nicola não pareceu surpreso ao vê-lo:
- Hoje não está vestido como um professor – comentou.
Bruce deu de ombros.
- Hoje não estou trabalhando. Folga.
- Sei, sei. Mesa para dois?
- Estou sozinho. Será que eu posso...
- Pode, pode, tudo o que quiser – Nicola interrompeu.
Agarrou o braço de Bruce e o levou até a cozinha. Dois cozinheiros discutiam por causa de um pedaço de queijo que poderia ou não ter sido usado na massa certa, e uma terceira voz, feminina, palpitava a respeito. Nicola gritou em italiano e a briga se encerrou – os cozinheiros piscaram, confusos, voltando-se para ele e Bruce.
- Aqui, parem de discutir. Há mais um infeliz para ser alimentado – Nicola puxou uma cadeira para Bruce. – Volto num instante.
Só então Bruce percebeu que Moira também estava lá; e ela pareceu notá-lo com a mesma surpresa. Os dois apenas se encaram, sem nada dizer.
Havia dois frangos crus em cima do balcão, já recheados, e diversas tigelinhas e tupperwares de legumes, queijo ralado e temperos. O molho de tomate fervia em uma panela.
- O que está fazendo aqui? – Bruce perguntou, por fim.
- Acho que estou almoçando. O que você faz aqui?
- Bem... o mesmo. É óbvio.
- Conheço você? – um dos cozinheiros perguntou, retirando uma assadeira do forno, espiando Bruce como se este lhe fosse familiar.
Bruce teve dificuldades de transferir sua atenção.
- É possível. Já estive aqui antes. No restaurante. Nesta cozinha. Parece ser um hábito. Eu e...
- Moira! – o cozinheiro exclamou, de repente. Pegou um dos frangos e o colocou dentro da assadeira. – É claro, como pude esquecer? É o namorado dela. – e teve medo de haver cometido uma gafe; exibiu um sorriso amarelo. – Ele é, não é, Moira?
Moira deu a impressão de ter engasgado com a própria saliva. Bruce sorriu.
- Bem, eu não sei. Quase fomos irmãos, uma vez. Acho que seria condenável, em inúmeras sociedades – disse.
Friday, December 15, 2006
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