Tuesday, June 06, 2006

Gentil

Bruce se inclinou com cautela sobre a caneca que ardia no fogão; retraiu-se ao sentir o cheiro. Notou, então, que o professor o observava, com alguma probabilidade enxergando a forma de se redimir.

- Bruce aqui, ele não conhece o assunto. Ou, no caso, finge que não conhece. Não é, Bruce?

- Eu li Ray Bradbury quando estava no colégio.

O professor riu e voltou-se, alegremente, para Moira.

- Enfim.Vou lhe mostrar o escritório, Srta. Harris.

Bruce deixou relutantemente que os dois partissem. Conhecendo o gênio do professor, começava a sentir-se responsável por Moira.

- Escute, escute. Não vão precisar de ajuda?

O professor o avaliou com curiosidade, abrindo, ao fim, um sorriso estranho, insano e cativante. Apertou a mão de Bruce e a sacudiu com energia, causando pânico no assistente.

- Meu Deus, você é gentil, Bruce, mas não entende nada de tecnologia! Agora Moira... Bem, talvez haja algum talento ali. Para uma mulher, eu quero dizer. Para alguém tão jovem. Moira vai precisar ser testada. Nunca se sabe em quem eu posso confiar, Bruce. Eu confio em você, eu confio. Mas você... e a sua inabilidade com números! Se fosse diferente, não teríamos tantos problemas. Eu até já poderia...

- Minha mão – Bruce cerrou os dentes. – Wilcox. A mão.

- Desculpe. Obrigado por trazer a caixa.

No jardim, Fahrenheit gania, amarrado a um tronco de árvore com sua própria coleira. Bruce, depois de haver sido enxotado, sentiu-se misteriosamente solidário com todas as criaturas do planeta. Soltou o cachorro, que disparou feito um trem bala para dentro da casa.

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